Há
vários meses Belarmino tem sofrido com uma intercorrência de
pneumonia aspirativa. Quando voltou a morar em João Pessoa, em
janeiro de 2017, tinha surtos de febre. Desde o ano passado a
alimentação era pastosa ou líquida, por ter dificuldade em
mastigar e engolir, consequência das fortes sessões de
radioterapia, na época em que combateu o câncer. Por volta de
abril, tratou uma pneumonia em casa e foi curada. Mas em junho e
julho, sofreu outra infecção nos pulmões e teve que ser internado.
Foi para o Hospital Memorial São Francisco, montou um escritório,
onde trabalhou por onze dias. Aluguel caro: quarenta mil reais. Sem
plano de saúde, resolveu acionando suas economias.
Ao
se despedir daqueles a quem cativou em pouco tempo, o médico Italo
Kumamoto, fundador do hospital, veio cumprimentar-lhe. Belarmino
falou-lhe, sinceramente:
-
Doutor Kumamoto, eu sou empresário há mais de 40 anos e uma empresa
tem que ter alma. Alma é a equipe; e sua equipe é nota 10. Mantenha
a alma de seu hospital.
O
depoimento foi postado no Facebook e, rapidamente, mais de 80 pessoas
deixaram mensagens. Desde 1976, quando montou sua primeira empresa,
Belarmino teve cerca de 4.500. Jamais sofreu uma questão
trabalhista.
Elogio
e cacetada, por merecimento.
Em
1983 Belarmino montou a primeira revenda de microcomputadores do
Norte e Nordeste, a Elógica Micro Sistemas Ltda. O nome foi sugestão
do sócio Antonio Dieudoné Pascoal Camargo, parceiro desde 1981.
Outro que andava lado à lado, no bando, era Mivacyr Meira Lima,
pessoa fundamental na trajetória empresarial de Belarmino, por mais
de 35 anos.
Arquivo pessoal de J.E.B.A. |
Eles
alugaram uma casa vizinha de outra empresa de Belarmino, na Rua da
Hora, 88, no Bairro do Espinheiro, em Recife. Reformaram em tempo
recorde, inauguraram com pompa e circunstância e montaram uma escola
só para cursos de informática, onde podia se encontrar turmas para
crianças.
Um
dos produtos da loja eram os microcomputadores da Brascom
Computadores Brasileiros. Fundada em 1980 e adquiriu autorização da
Secretaria Especial de Informática (SEI) para começar a fabricar
micros em 1982.
Certa
vez, a Elógica comprou um grande lote de micros BR-1000, que já
estavam praticamente revendidos. Pagou, mas “quase” não recebeu
a encomenda. Uma história que Mivacyr se divertiu ao lembrar:
-
Depois de nos ter vendido uma boa quantidade de computadores, através
do sr. Manfredini, o gerente para nossa região, o dono da Brascom,
Sr. Jorge, anunciou que ia fechar a empresa por dificuldades
financeiras, (gastou o dinheiro de forma não muito legítima, pelo
menos se comentava nos corredores da Brascom). Ora, a empresa sendo
dele mesmo, claro, ele podia fazer o que achasse melhor; mas tinha
que dar alguma condição aos clientes compradores daqueles
equipamentos, ou seja, nos fornecer peças de reposição ou pelo
menos os endereços dos seus fornecedores nos Estados Unidos. O Sr.
Jorge negou.
Belarmino
mandou comprar duas passagens, corujão, e fomos a São Paulo. A
coisa engrossou e no gabinete do "importante" Sr. Jorge.
Belarmino partiu pra cima, ao ponto de querer jogar um enorme
aquário. Imagine eu, baixinho, no meio dos dois sem nada conseguir
com este meu físico!
Belarmino
não perde a chance de completar:
- O
governo havia feito uma grande desvalorização do dólar. A inflação
era galopante. Chegamos pela manhã na luxuosa sede da Brascom, no
Morumbi, ao lado da Kodak. O dono chegou ao meio dia. Nos atendeu
junto com a diretoria às 14 horas. Levantei
na suntuosa sala e fui dizendo: “Você vai me
entregar as máquinas, ou vou lhe encher de porrada.”
Fui na sua direção e ele começou a me falar de
educação. Eu estava decidido. Alguns diretores tentaram se
levantar, eu dei um berro e botei a mão no bolso imitando uma arma.
Continuei, dei mais alguns passos e ele disse: “Entrego
na saída”. Táxi. Aeroporto. Recife.
Todos meus clientes foram atendidos.
_________________________
Fontes:
Depoimentos de dona Celeide, esposa de Belarmino; Mivacyr; e Belarmino. “Carcinha – a biografia a ser publicada”. “A reserva de
mercado na área de informática da década de 70 / 80”. Reinaldo
Bogomolow. Dissertação. Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. São Paulo. 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário